segunda-feira, 15 de maio de 2017

I

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durmo sempre com a boca virada pro orvalho
e desperto bebida de terra
hoje é de lembrar os órgãos ocos
de meninos que não podem crescer
debaixo de laranjeiras
e de cada baga por dentro
imagino o azedo doce gelatinoso desse corpo
daqui, nos limeiros crescem frutos fortes
que secam ainda grudados nos galhos
o despertar de um hoje que não dormiu
foi pra lembrar do que tem debaixo
de cada pedra de um império

II

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é do medo de esquecer seu rosto
que a poeira que cobre meu corpo
se espalha pelas paredes
em casas de areia e veias abertas de sal
e apesar do céu
o que vi diante do meu inteiro ser
ainda não pude dizer o nome

domingo, 14 de maio de 2017

III

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ainda repito as palavras
da boca faminta
seu nome não posso dizer
o silêncio azul transparente olhos de prata tão inventados quanto o respiro do oceano
o rio que me atravessa é o outro, a qual se uniu
em margem dolorida ponte
bússola
te chamo em naufrágio

segunda-feira, 23 de maio de 2016

,

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Nos deslocamentos de tempo possíveis
das escavações que revelam
entre camadas geológicas que no passado eram jovens
cidades subterrâneas emergem

canecas, tamancos

e se meu corpo em seus veios habitou
foi com o mesmo temor de encarar o céu
que não desgruda os olhos do azul ainda sem nome
das estrelas noturnas que se moviam em outras formações

vivendo num tempo de poeira
que jamais foi fotografado

segunda-feira, 8 de junho de 2015

. lembra

.


do que tem debaixo

lembra

das pedras, pegadas
dos meninos que nao podem crescer
na sombra das laranjeiras, as bocas comidas de terra e orvalho

as mães, de ventres ocos
da ausência, tua

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quinta-feira, 31 de julho de 2014